Ainda os Grandes Portugueses...

Agora que a poeira começa a assentar, parece-me oportuno tecer mais algumas considerações sobre o programa Grandes Portugueses.
A RTP sofre daquilo que eu chamo o Complexo BBC, que se baseia na crença de que tudo o que o gigante britânico faz é de grande e inquestionável qualidade. Nada mais errado. Se é verdade que tem conteúdos únicos, também tem muito lixo. O programa Grandes Portugueses é, salvo erro, um original da BBC, e segue, na minha opinião, um princípio positivo que passa pela discussão, debate e divulgação de figuras e factos históricos relevantes. Contudo, a RTP não resistiu (reafirmo que é uma opinião pessoal) a introduzir um certo elemento espectáculo, sobretudo após a eleição dos 10 finalistas que incluíam Álvaro Cunhal (defensor do Comunismo mais ortodoxo) e Salazar (grande responsável por meio século de “escuridão”, e pelo grande atraso que o nosso país (ainda) sofre). A partir desta altura a estação pública não enjeitou a (muita) publicidade que se fez muito à volta destas duas figuras – as audiências!!! – e se é verdade que mais não é do que um concurso, (e que é errado pensar que a partir desta semana vamos ter um Salazar em cada esquina), ignorar por completo este acontecimento, é um daqueles erros que pode ser muito grave a médio/longo prazo – e é isso que a RTP tem feito (pudera!), descartando as suas responsabilidades nesta matéria. Porque é que não se debate esta matéria? Será que ganharam consciência do descrédito e desaproveitamento a que votaram o programa? A RTP acabou por criar um “monstro” e quando quis controlá-lo já era tarde.

Acaba-se por perpetuar o mesmo erro dos últimos 30 anos: não se fala, não se discute, não se estuda Salazar e o Estado Novo. Nessa medida, a ignorância dos portugueses em relação a esta matéria, em especial dos mais jovens, é evidente. E explica, em grande parte, o resultado que se verificou no passado fim-de-semana! A RTP poderia aproveitar esta oportunidade para fazer Serviço Público, lançando uma discussão séria sobre este período. Não devemos ter complexos em relação à nossa História. É ela que nos identifica. Para o bem e para o mal!

3 Comments:

  1. Zig said...
    Por acaso não sabia que o estado novo não era objecto de estudo nas escolas. Até na minha (Alemanha) o era!

    Mas tenho a certeza que um dos próximos Prós e Contras se vai debruçar sobre o tema!
    Anónimo said...
    Apoiado! Puseste o dedo numa ferida importante: porque é que não se ensina a nossa história como deve ser nas escolas? Agora vem aí o 25 de Abril, e, mais uma vez, vamos assistir à esquizofrenia total no nosso país: por um lado, gente que celebra o 25 de Abril como se ele tivesse sido só ontem e ainda tivéssemos desculpa por não termos crescido mais desde então; por outro lado, as nossas crianças e os nossos jovens "inconcientes", que agora devem ficar confusos com as comemorações: "Então meu, o Salazar não era um grande português? O país nessa altura devia estar espectacular, pá!"
    RCataluna said...
    Zig:

    O Estado Novo, pelo menos no meu tempo, até era objecto de estudo na Escola. Infelizmente,como os programas de História são muito extensos, as coisas eram abordadas muito superficialmente. Felizmente tive uma professora que se debruçou com muito afinco nesta parte da matéria! Quanto a um Prós e Contras dedicado a isto, era bom... mas tenho muitas dúvidas...

    Abraço e boa semana!!

    Bia:

    EXACTAMENTE!! Esquizofrenia é um termo muito apropriado!!

    Bjs do Bio e da Bete!!

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